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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Queda

... e não há virtude que não se torne vício.
É a sensação confusa de ver-se pelo avesso.
Basta um momento, uma distração, e as pedras já rolam.
A avalanche é quieta, não destrói as casas nem derruba árvores.
É dentro. Basta um passo em falso.
Pois para o pé torcido, não importa qual era o rumo, a intenção ou destino.
O corpo cai e pronto. E se mistura as pedras, despenca na água.
E nem sequer sente o alívio da dor. Não há cortes ou sangue.
Não há, portanto, como saber o que é real.
É esse o impacto que tem a queda: o de um sonho.
Não existem bandagens ou curativos. Existe angústia. E silêncio.
No silêncio me transformo. Agora é a dormência, no lugar da dor.
   

Torno-me, ou melhor, percebo-me, então aquele que nunca quis ser...

sábado, 10 de setembro de 2011

Real

Gosto bom é o gosto de surpresa.
Naquela hora, ainda em transe, naquele lugar mágico e único que fica entre o mundo dos acordados e o dos adormecidos, aquela hora em que o corpo cambaleia incerto e o espírito ainda tenta sair da cama.
Essa hora é uma janela, é uma tela que não se apaga mais.
E aí o momento, de tanto que não pertence a realidade alguma, passa a ser a expressão máxima dos dois mundos.
É como um atalho para a alma, um portal que se abre sobre um instante, simples e despretensioso, ao ponto de ser eterno e irresistível.
É o momento em que a pele fica macia e a mente silencia, como nunca consegue fazer quando quer.
É o que basta, a sensação absoluta de estar no lugar certo. O conceito de infinito finalmente se explica, por si só.
É o gosto bom da espontaneidade. Sabor de vida.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Par

Se sou estranho, ela conhece
Se sou vento, ela conduz
Se sou dor, ela entorpece
Se sou código, traduz

Quando esqueço, ela é lembrança
Quando canto, ela é plateia
Quando brinco, ela é criança
Quando crio, é ideia

Se sou relapso, ela é firmeza
Se sou cansaço, é aconchego
Se sou medo, é fortaleza
Se sou tensão, é meu sossego

Quando sorrio, ela é reflexo
Quando perco, ela é abraço
Quando divago, acha nexo
Quando me ama, me refaço

segunda-feira, 28 de março de 2011

Dois lados

Sólido casco de intocável núcleo
sofre o golpe de quem não compreende
Adversário invisível, interno e imutável,
insaciável que mora no espírito alheio

E por mais que o corpo se lance, se canse, se alce
é de tal natureza que o tato não basta
não chega nem perto de cumprir a tarefa
de mapear as formas deste algoz arraigado

Busca então na palavra, melódica ou crua
a trilha que cruza os portões dos dois mundos
para que, assim, mutuamente desvendados
da batalha cruel se faça um tratado

Agora lhe resta concentrar seus esforços
para que possa captar os sinais obscuros
e tornando-os tangíveis através do seu canto
encerre a disputa entre o corpo e a alma

terça-feira, 22 de março de 2011

MusicalMente

Se for para ouvir a música, escuta inteira, toda ela, pois ela sou eu.
Desbrava todas as suas palavras, cores e acordes, e nunca, nunca sinta que a tarefa de decifrar o som está cumprida.
É assim, e somente assim, que posso ser conhecido.
Qualquer outro método esbarra na parede física do corpo que limita, que disfarça o sólido de real e nos impede de tocar aquilo que realmente é, que realmente importa.
Transcende o tato, tentador, porém finito, e busca nas ondas a essência inteira, a substância primeira que me é intrínseca e que se expande muito além das formas e membros, das normas e dos trejeitos que acorrentam tantos.
E mesmo que seja apenas por um segundo, sente a sua infinidade, extrapola as dimensões corriqueiras, cria novas maneiras, foge do que lhe parece seguro e respira essa nova atmosfera, que é feita de som e alma.
Se for para ouvir a música, escuta inteira...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Toda noite...

Eu não ia postar letras de músicas, mas ah... ta aí


Tantos sonhos deixam de nascer
Amanhecem mortos
Nem seus corpos imateriais
Poderemos ver

Toda noite tudo é sempre igual
Olhos nas estrelas

Mas a luz não nos falta e o breu não apaga as nossas idéias
E as cores opacas de tão inexatas acabam por ser as mais belas
As palavras fluem como se viessem com o vento
Escuta apenas o som dos teus passos e teu pensamento

Toda noite tudo é sempre igual
Estrelas nos olhos

É então que as promessas se vão
E voltam os medos
E os nossos segredos
Se mostram em vão

É o mesmo pra dor ou paixão
Se conta nos dedos
Quão poucos enredos
Saíram do chão

Toda noite tudo é tão real
Lágrimas nos olhos