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sábado, 26 de outubro de 2013

Leve

Que seja sempre leve
Não frio, nem pouco, nem quase, nem meio, nem talvez
Nada disso
Apenas intenso, intenso e leve
E que exploda, que arrepie, que doa
Que brote lágrima, que escorra
Sem padrão, sem forma, como estas palavras
E me leve
Para cair no chão, na areia
Acordar na grama, no aperto, no conforto
Na neve
Muitos sejam os bocejos de quem vive pleno
E muita música, e dança, e festa e aconchego
Releve
Não ignore, mas releve
A ponta de medo, o tremor incerto, o nó
A cautela e a falta de cautela
Breve
Já não há mais como ser breve
É que já transbordou, e não teve jeito
Que transborde mais e mais
Que inunde, alague
E nessa inundação, flutue
Flutuemos
Como uma folha seca ou um corpo relaxado no mar
Assim, simples
Leve

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Preço

É a medida do desprezo
que se impõe a toda sobra
a todo fruto, toda obra
que em ouro não tem peso

Onde há felicidade
é onde ele não existe:
na morte da saudade,
no abraço que persiste

E quando a vida vira conta
não tem moeda que dê conta

de alegrar o rosto triste

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Parece delírio, vertigem
É confusão intrínseca aos fatos
Nó que aperta na origem
Muda o gosto do ar
Altera os auto-retratos

Adagio na hora da festa
Presto durante o caminho
O corpo dói, protesta
Grita, manifesta
Mas acaba rindo baixinho

É pavor quando há medo
Êxtase quando farra
Fim dos segredos
Tremor nos dedos
Quietude, algazarra

Não tem nome nem medida
Só a inquieta certeza
A aguda e pesada certeza
De que nada mais é preciso
Para tornar viva uma vida

Pássaros e beijos de bom-dia

Casa, música, passeio
Viagem, dinheiro, devaneio
Amizade, cerveja, família
Sorte, saúde, mobília
Cobertor, violão, remédio
Amor, domingos sem tédio
Livros, banho, comida
Paciência pra cruzar avenida
Aula, sono, ensaio
Ser lembrado no final de maio

É tanta coisa que eu preciso
Que nem sei o que faria
Não fosse a simplicidade
De uma doce e gostosa ironia

Para ser feliz de manhã
Não precisa de esforço ou magia
Bastam duas pequenas coisas
Que quebram a monotonia:

Pássaros
E beijos de bom-dia